terça-feira, 30 de dezembro de 2014

SãoSebastião2014-Opinião - PROFESSOR: UM PALHAÇO VESTIDO DE BILRO



Curti, comentei e compartilhei. Ontem, ao entrar em minha conta no Facebook, fui informado de que um usuário desta rede social havia publicado um status, na página da Prefeitura Municipal de São Sebastião, o qual repudiava o destrato do Município em relação aos professores. A referida cidade,que está situada no agreste alagoano e é conhecida pela cultura da renda de bilro, tem apresentado certo descaso com os profissionais da educação, o que tem gerado sério descontentamento à população.
A prática de ensinar data desde antes de Cristo, introduzida pelos sofistas e impulsionada pelos filósofos da natureza. Na contemporaneidade, diferencia-se pelas múltiplas transformações que recebeu desde aquela época, onde houve uma gama de direitos conquistados e que, gradativamente, estão sendo postos em práticas.
Mas, afigura do professor vem sofrendo algumas distorções na sua forma de atuação, pois este, nos últimos tempos, tem sua prática desconsiderada. A ele se oferece as mínimas condições possíveis de trabalho; uma ínfima valorização seja com salário, ou reconhecimento, e pouco incentivo no decorrer do seu plano de carreira. Dessa forma, há uma relação entre professores e alunos: quando os primeiros são injustiçados, os segundos se prejudicam.
Pesquisas científicas, através de entrevistas e acompanhamento da evolução dos alunos do ensino de base, comprovam que o rendimento dos discentes depende de professores felizes e realizados com o seu trabalho; mas, para isso, a classe docente tem que ser motivada, seja com um salário digno ou - pelo menos - com um ambiente favorável ao ensino.
Corroborando para o fato acima,em recente entrevista, o comentarista Alexandre Garcia salientou que “o indivíduo nasce professor e não tem que se envergonhar, a não ser com o salário”. Ao acompanhar a entrevista, lembrei-me do amor  dos professores desse Município pela profissão e da alegria dos familiares ao verem seus filhos com o diploma de professor. Os que aqui residem também enxergam nessa classe a possibilidade de alcançar um futuro promissor, seja seguindo a carreira de seus mestres, ou se inspirando para traçar o seu próprio caminho. Mesmo assim, há quem diga que a carreira docente vem se desfalecendo a cada dia, outros veem nela o ofício de um palhaço: propor motivos para uma total alegria e em troca receber parcial valor, seja financeiro ou falta de reconhecimento da sua importância em todo e qualquer contexto social.
Ainda, ao tentar entender o porquê de haver alguns entraves, a exemplo da desvalorização com essa classe, interroguei um dos responsáveis por essa triste realidade, e recebi como resposta a pouca geração de renda do Município de São Sebastião. No entanto, penso que esse pretexto tornou-se obsoleto, uma vez que todos os anos são gastos milhares de reais com shows e eventos dispensáveis a esse município. Sendo assim, o que mais vale: dançar até o amanhecer ou tornar prioridade aquilo que realmente tem utilidade?
É evidente que se trata de uma estratégia política, pois quanto mais os professores destoarem da prática de sua formação, não exercendo um bom trabalho, visto que a ele não se oferece um significativo valor e, quanto mais analfabetos, leigos e desinformados estiverem em nossos meios, mais fácil será manipulá-los, gerando assim ausência de autonomia. Dessa forma, é fato que no decorrer de sua formação, os docentes são instigados a exercitar e praticar autonomia, mas quando a exercem são ignorados, pois são conduzidos a se redimirem perante a sociedade.
Em minha opinião a remuneração pode não ser por si só a parte mais importante de qualquer processo, porém é o mínimo que se pode atribuir a qualquer profissional. A realização pessoal vem acompanhada de um conjunto de fatores, seja amor pela profissão ou o sentimento de se estar realizado. Entretanto, devem-se ofertar subsídios aos professores para que eles exerçam a sua função sem que venham se esvair da prerrogativa de transformar o meio social em que atuam.
             O professor ainda é responsável pela formação intelectual do indivíduo, no entanto, no caso aqui mencionado, o Município insiste em amarrá-lo ao bilro, impossibilitando-o, assim, de exercer a função de transformar o meio social em que atua, projetando-o para um infinito com fim, um fim predeterminado por aquele que se intitula capaz de determinar o que para ele não passa de tarefa insolúvel, restando-lhe o exercício da hipocrisia disfarçada de dever cumprido.
>José Ismair de Oliveira dos Santos - aluno do 3º ano do ensino médio – Cursando Eletroeletrônica no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) – Campus Arapiraca.

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