Nesses
cercada de 8 dias passados, faltou água em São Sebastião. Pense-se na
quantidade de reclamações chegaram a esta Ongue, por intermédio da rádio
comunitária Salomé FM, 105,9 MHz.
Na última
quarta-feira esta Ongue, via RadCom Salomé, entrou em contato com a Casal. Casal
é a sigla de uma empresa de economia mista do Estado Alagoas, integrante da
administração indireta deste Estado, sendo denominada de Companhia de
Abastecimento D’Água e Saneamento do Estado de Alagoas.
Buscava-se
saber o motivo da falta d’água nesta cidade. Durante as reclamações, esta Ongue
ouviu até mesmo propostas de raivosas de privatização da Casal. Naturalmente,
as propostas de privatização não pensavam no futuro da população empobrecida,
que não tem condições de compra água de empresas privadas.
Não se
obteve resposta de imediato, mas na quinta-feira a regularização o abastecimento
retornou e as reclamações acabaram.
No contato,
a Ongue tomou conhecimento de uma entrevista que seria pública no jornal
Tribunal Independente, que trata do possível desabastecimento d’água em muitos
municípios alagoanos, exatamente por causa da possível privatização do sistema
de abastecimento d’água e do fim do subsídio cruzado, que utiliza os
recursos dos municípios que dão lucro, “superavitários, naqueles que dão
prejuízo”, deficitários.
A seguir você pode
ler a entrevista do Presidente da Casal e debater e refletir sobre os fatos.
‘É catastrófica para o saneamento’, diz
presidente da Casal sobre MP 868/2018
↑ Clécio Falcão destaca que
validação da Medida Provisória pode gerar colapso do sistema em municípios
alagoanos (Foto: Edilson Omena)
No “apagar das luzes” de seu governo, o
ex-presidente Michel Temer publicou a Medida Provisória 868 de 27 de dezembro
de 2018 que altera o Marco Legal do Saneamento. Na prática, essa MP obriga,
entre outros aspectos, que municípios abram chamada para a participação de
empresas privadas ao fim do contrato de concessão dos serviços de saneamento. A
MP 868 é uma reedição da MP 844 que “caducou” por falta de votação e excesso de
discussões no Congresso ano passado. A MP prevê que a Agência Nacional de Águas
(ANA) seja responsável pela regulação do serviço no país. No entanto, a própria
ANA emitiu nota de esclarecimento onde afirma que não tem estrutura para
abarcar a atribuição. Agora, a Medida Provisória precisa ser votada pelo
Congresso nos próximos 180 dias para ser colocada em prática. Em meio à
polêmica, a reportagem da Tribuna Independente conversou com o
presidente da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), Clécio Falcão, que
classifica a mudança como “catastrófica” para o setor. Além disso,
segundo Falcão, há risco de colapso para a cobertura de serviços da companhia
nos municípios alagoanos.
Tribuna Independente
– A MP 868 pegou de surpresa o setor de saneamento público por ter sido
publicada no penúltimo dia útil de mandato do ex-presidente Michel Temer. No
que consiste essa Medida?
Clécio Falcão – A MP 844 teve o prazo no Congresso vencido e não chegou a ser votada.
Então não houve a votação do mérito, vamos dizer assim. Se exauriu o tempo, os
quatro meses que uma MP precisa para ser votada sem conseguirem aprovação. Com
isso ela foi retirada de pauta e nós achávamos, nós as companhias de
saneamento, associações… que estavam todas juntas nesse trabalho de
resistência, de combate, a MP 844 a gente achava que deveria vir outra MP,
provavelmente na atual legislatura. Surpresa nossa é que ainda na legislatura
vigente veio essa medida. A MP 868 é muito parecida com a 844 o que abre até o
questionamento da legalidade disso, mas aí é um aspecto jurídico que não vou me
deter. A 868 tem algumas modificações, mas mantém os mesmos aspectos que são
altamente danosos para a área de saneamento público. Principalmente o artigo
que estabelece a obrigação do município de licitar os contratos de prestação de
serviços de saneamento que as companhias que já executam, não tem a garantia de
renovação.
Tribuna Independente – Na
prática, a medida possibilita que empresas privadas concorram com o setor
público. Quais os impactos dessa mudança para o sistema de abastecimento do
estado?
Clécio Falcão – O problema é que a iniciativa privada tem interesse em participar de
processos licitatórios em municípios superavitários e lógico que a
iniciativa privada não vai querer concorrer em cidades onde o serviço gera
prejuízos. Atualmente a Casal trabalha com o chamado subsídio cruzado, que
utiliza os recursos de municípios superavitários naqueles que dão prejuízo. Em
muitos casos, o serviço nessas cidades chega a custar três vezes o que é
arrecado. A iniciativa privada não vai executar papel social em lugar nenhum.
Ela vai atuar onde der lucros. E isto não estou colocando de forma pejorativa.
Acredito que ela é vital e tem que andar lado a lado ao serviço público. Não
estou fazendo condenação. Estou dizendo o óbvio, que a iniciativa privada
existe para resolver determinados problemas mediante remuneração, ela deve ter
lucro. Municípios que não proporcionam lucro não são interessantes, porque a
companhia atua pelo papel social do estado. Por exemplo, Maceió representa 50%
do que é arrecadado pela Casal, é uma cidade viável, digamos que a Prefeitura
seja obrigada a fazer licitação e a iniciativa privada ganhe, o que não seria
difícil acontecer porque ela consegue baixar o preço. Uma empresa privada
ganhando e tirando Maceió do coletivo das cidades atendidas, a Casal fica
inviável, a partir do momento que tira Maceió, a Casal não tem como se
sustentar. As 76 cidades atendidas, a arrecadação não vai suportar as despesas
e a Casal passaria a ter prejuízo. Mesmo assim, ainda teria uma meia dúzia de
cidades que daria lucro, essas também vão ser alvos da iniciativa privada. Há
um risco de sobrevivência da companhia. E entendemos que o prejuízo maior é da
população, porque a partir do momento que a Casal não tiver saúde
financeira para prestar o serviço alguém vai ter que completar, isto é, o
Governo do Estado vai ter que entrar. E o Governo vai ter capacidade para arcar
com isso? Provavelmente não. O Governo já tem obrigações demais.
Tribuna Independente – É possível
dizer que a MP 868 coloca em risco a sobrevivência da Casal?
Clécio Falcão – Há risco de colapso no sistema. Porque naquele município deficitário
a companhia não irá conseguir arrecadar mais do que gasta e a tendência natural
das companhias estaduais é reduzir o atendimento dos serviços e o que era uma falta
de água esporádica passará a ser uma constante, correndo o risco de chegar a
ter o abastecimento cortado. Essas cidades poderão ter em médio prazo a
prestação de serviço suspensas e quem vai pagar é a população, é quem fica com
o grande prejuízo. Atualmente eu cubro um prejuízo com o lucro e equilibro,
caso haja sobras o valor é reinvestido porque a companhia pública não precisa
de lucro, todo o valor é investido. Mas se eu só fico com os municípios
deficitários eu não tenho como fazer essa compensação. Empresa nenhuma pública
ou privada consegue viver com prejuízo indefinidamente. O Estado nunca precisou
colocar dinheiro na Casal. A Casal é independente, não depende do Tesouro
Estadual para funcionar. Ela vinha dando prejuízos há muitos anos e esse prejuízo
vinha sendo acumulado, chegou a um ponto tal que não podia continuar, porque se
continuasse ia ter que ser fechada, privatizada… Até que no Governo Renan Filho
se começou um processo de recuperação da Casal. Já são três anos seguidos com
superávit, ela vem se recuperando e isso tem permitindo que ela reinvista esses
valores e melhore o atendimento à população. Mas a partir do momento que
perdemos as cidades que dão o suporte o serviço vai ficar prejudicado. É isto
que nós estamos alertando. Para se ter uma ideia, no passado, no período de
prejuízo, a Casal chegou a deixar de abastecer um povoado, de Carié em Canapi,
que era abastecido e perdeu a capacidade de abastecimento, deixou de ser
abastecido, os canos secaram. Atualmente estamos melhorando o abastecimento. Na
cidade de Inhapi, por exemplo, só chegava água a cada quinze dias. Inauguramos
um sistema que custou R$ 8 milhões e agora tem água 24 horas por dia durante os
30 dias do mês.
Tribuna Independente – Em sua
avaliação, qual seria a alternativa para essa MP?
Clécio Falcão – Diversas entidades do setor de saneamento se juntaram porque
enxergaram o malefício que a MP 844 traria para a sociedade. Inclusive, 26
governadores assinaram um manifesto contra a MP porque entenderam que isso
traria prejuízo aos estados. Quando a MP saiu de pauta foi uma vitória muito
comemorada pela área do saneamento e aí o governo Temer lança essa outra,
provavelmente combinado com um governo prestes a assumir e que é catastrófica
para o setor de saneamento. Aí a gente não entra em outras questões também
ruins como a forma precipitada de resolver problemas antigos de saneamento.
Essas questões devem ser resolvidas através de grandes debates, mas está se
tentando resolver por meio de Medida Provisória. Esses assuntos devem ser
resolvidos por meio de Projeto de Lei, com a participação da sociedade. A Lei
do Saneamento é de 2007, é a lei que regula o saneamento do Brasil. Foram 10
anos de discussão para se chegar a essa lei. Se ela precisa de alterações, que
se discuta, para se apresentar uma nova lei ou correções necessárias. Aí vem o
governo e quer resolver isso por MP, é uma coisa totalmente inadequada. A MP
também transforma a ANA em uma agência de regulação do saneamento. A ANA não
foi criada para isso, não tem estrutura para trabalhar, por exemplo, com
esgotamento sanitário. Isso é mais abrangente. A ANA teria que ser
reestruturada, ampliada para fazer esse papel. Para que fazer isso de forma
intempestiva?
Tribuna Independente – A quem
interessa a validação dessas mudanças?
Clécio Falcão – Ao setor privado. A iniciativa privada. As empresas privadas que
militam na área de saneamento, elas têm uma associação, a Abcon, Associação
Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos. A Abcon foi quem
deu todo o suporte técnico e legal ao Governo Federal para edição dessas
medidas. E a Abcon representa as grandes empresas de saneamento. E o que a
gente tem dito a essas empresas é que nós entendemos que a iniciativa privada
deve participar do serviço de saneamento, mas como prestadora de serviço, em
parcerias, mas a gestão tem que ser pública. A gente está tratando de saúde,
saúde pública, porque o saneamento é um viés da saúde pública. E como se quer
tratar de saúde pública, privatizando? É isso que a gente é contra. Porque a
partir do momento que se privatiza, o viés econômico vai prevalecer e a gente
está num país com uma distribuição e renda muito ruim, com um percentual
significativo vivendo abaixo da linha de pobreza e você dizer para essa
população que a iniciativa privada vai entrar para resolver o problema dela,
não é verdade, é uma grande mentira, porque a iniciativa privada não investe
onde não há capacidade de retorno. E uma coisa que o Governo Federal não
considerou: A privatização pura e simples obrigaria a determinada empresa a
atender todos os municípios. Já esse modelo é ainda pior, porque permite que as
empresas escolham onde querem atuar.
https://tribunahoje.com/noticias/cidades/2019/01/05/e-catastrofica-para-o-saneamento-diz-presidente-da-casal-sobre-mp-868-2018/
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