Os excelentes propósitos da senadora Marina Silva não passaram pelo teste da realidade objetiva. Depois de uma candidatura à Presidência da República que conseguiu mobilizar milhões de eleitores e animar uma parcela importante da população que sonha com uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o país, ela vê sucumbirem seus planos de consolidar no Partido Verde o prestígio que obteve durante a campanha de 2010.
A realidade partidária congelou, por enquanto, o projeto de estender para todo o país a utopia acriana da florestania.
Inspirada, a senadora ainda teve humor para cunhar uma palavra para explicar sua atitude. "Não é hora de ser pragmática, é hora de ser sonhática", declarou, segundo os jornais.
Após meses de disputa com o grupo do deputado paulista José Luiz Penna, que domina o partido e o conduz a adesões ao governo onde quer que tenha uma bancada, Marina jogou a toalha e se rendeu à realidade da política partidária brasileira. O verde do partido que abrigou sua candidatura representa, no máximo, a falta de maturidade de seus dirigentes.
Legenda esvaziadaEspecialistas citados pela imprensa entendem que, com esse gesto, a senadora do Acre vai preservar a maior parte do seu patrimônio eleitoral, composto principalmente por cidadãos que tentam aliar as preocupações ambientais com a ética na política, mas não formam nas linhas dos demais partidos disponíveis.
A maior parte das opiniões selecionadas pelos jornais condena o PV a um papel insignificante, pois ficou claro que a agremiação não tem compromissos reais com os valores apregoados por Marina durante a campanha e que lhe valeram a terceira colocação no primeiro turno das eleições presidenciais, com 20 milhões de votos.
Derrotada por suas qualidades, Marina precisa agora demonstrar que é capaz de conduzir seus correligionários a um endereço partidário compatível com suas propostas.
A decisão de dois dos fundadores do PV, o deputado federal Alfredo Sirkis, que apenas pediu licenciamento, e do ex-deputado Fernando Gabeira, que se manteve filiado ao partido, não são considerados suficientes para evitar o esvaziamento da agremiação quando Marina anunciar seu novo destino.
Imprensa conformistaUm aspecto que chama atenção no noticiário sobre o desligamento da ex-ministra do Meio Ambiente do partido que nominalmente representa o movimento ambientalista é o tom de conformismo da imprensa com a inevitabilidade de termos um sistema partidário viciado, com agremiações sem representatividade e em muitos casos associadas a interesses privados.
Num ambiente em que as eventuais manifestações em favor de uma reforma política fossem levadas a sério, deveriam estar sendo ouvidas muitas vozes em favor de uma mudança.
A realidade partidária, que mostra partidos funcionando como verdadeiras máfias em todas as instâncias do poder, deveria ser suficiente para mover corações e mentes. Mas tanto a imprensa como a sociedade parecem anestesiadas diante de uma situação inaceitável que se apresenta como destinada a se perpetuar.
Assim como não se mantém por muito tempo nos jornais, quando aparecem, os debates sobre reforma política não costumam ser relacionados a outras questões correlatas, como a necessidade de desenvolver projetos consistentes de educação para a cidadania.
Assim como muitos brasileiros, que se referem à política partidária com desprezo, pelo que ela é, a imprensa trata as instituições da República quase sempre como entidades externas ao contexto social. No entanto, atua no palco da política com ações típicas de partido.
País sustentávelUm projeto de educação cívica que leve a sociedade a pressionar por instituições públicas como devem ser não pode depender de um líder carismático a convocar multidões.
A criação de um ambiente favorável ao acolhimento de idéias inovadoras para a participação mais efetiva da sociedade nas decisões importantes teria grandes possibilidades de sacudir o marasmo, desde que a imprensa também deixasse de participar do jogo político como é jogado.
Marina Silva não é a única personagem a encarnar o sonho de um Brasil sustentável. Ela não é nem mesmo unanimidade entre os ambientalistas.
Mas sua campanha, que foi claramente manipulada por partidos oposicionistas e pela imprensa para desestabilizar a candidatura da aliança governista, mostrou de alguma forma que há muitos brasileiros ansiando por uma mudança no sistema.
Por Luciano Martins Costa, Comentário para o programa radiofônico do Observatório da IMprensa (OI), 8/7/2011
A realidade partidária congelou, por enquanto, o projeto de estender para todo o país a utopia acriana da florestania.
Inspirada, a senadora ainda teve humor para cunhar uma palavra para explicar sua atitude. "Não é hora de ser pragmática, é hora de ser sonhática", declarou, segundo os jornais.
Após meses de disputa com o grupo do deputado paulista José Luiz Penna, que domina o partido e o conduz a adesões ao governo onde quer que tenha uma bancada, Marina jogou a toalha e se rendeu à realidade da política partidária brasileira. O verde do partido que abrigou sua candidatura representa, no máximo, a falta de maturidade de seus dirigentes.
Legenda esvaziadaEspecialistas citados pela imprensa entendem que, com esse gesto, a senadora do Acre vai preservar a maior parte do seu patrimônio eleitoral, composto principalmente por cidadãos que tentam aliar as preocupações ambientais com a ética na política, mas não formam nas linhas dos demais partidos disponíveis.
A maior parte das opiniões selecionadas pelos jornais condena o PV a um papel insignificante, pois ficou claro que a agremiação não tem compromissos reais com os valores apregoados por Marina durante a campanha e que lhe valeram a terceira colocação no primeiro turno das eleições presidenciais, com 20 milhões de votos.
Derrotada por suas qualidades, Marina precisa agora demonstrar que é capaz de conduzir seus correligionários a um endereço partidário compatível com suas propostas.
A decisão de dois dos fundadores do PV, o deputado federal Alfredo Sirkis, que apenas pediu licenciamento, e do ex-deputado Fernando Gabeira, que se manteve filiado ao partido, não são considerados suficientes para evitar o esvaziamento da agremiação quando Marina anunciar seu novo destino.
Imprensa conformistaUm aspecto que chama atenção no noticiário sobre o desligamento da ex-ministra do Meio Ambiente do partido que nominalmente representa o movimento ambientalista é o tom de conformismo da imprensa com a inevitabilidade de termos um sistema partidário viciado, com agremiações sem representatividade e em muitos casos associadas a interesses privados.
Num ambiente em que as eventuais manifestações em favor de uma reforma política fossem levadas a sério, deveriam estar sendo ouvidas muitas vozes em favor de uma mudança.
A realidade partidária, que mostra partidos funcionando como verdadeiras máfias em todas as instâncias do poder, deveria ser suficiente para mover corações e mentes. Mas tanto a imprensa como a sociedade parecem anestesiadas diante de uma situação inaceitável que se apresenta como destinada a se perpetuar.
Assim como não se mantém por muito tempo nos jornais, quando aparecem, os debates sobre reforma política não costumam ser relacionados a outras questões correlatas, como a necessidade de desenvolver projetos consistentes de educação para a cidadania.
Assim como muitos brasileiros, que se referem à política partidária com desprezo, pelo que ela é, a imprensa trata as instituições da República quase sempre como entidades externas ao contexto social. No entanto, atua no palco da política com ações típicas de partido.
País sustentávelUm projeto de educação cívica que leve a sociedade a pressionar por instituições públicas como devem ser não pode depender de um líder carismático a convocar multidões.
A criação de um ambiente favorável ao acolhimento de idéias inovadoras para a participação mais efetiva da sociedade nas decisões importantes teria grandes possibilidades de sacudir o marasmo, desde que a imprensa também deixasse de participar do jogo político como é jogado.
Marina Silva não é a única personagem a encarnar o sonho de um Brasil sustentável. Ela não é nem mesmo unanimidade entre os ambientalistas.
Mas sua campanha, que foi claramente manipulada por partidos oposicionistas e pela imprensa para desestabilizar a candidatura da aliança governista, mostrou de alguma forma que há muitos brasileiros ansiando por uma mudança no sistema.
Por Luciano Martins Costa, Comentário para o programa radiofônico do Observatório da IMprensa (OI), 8/7/2011
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