terça-feira, 9 de dezembro de 2025

LUGAR DE CRIANÇA NÃO É NA REDE SOCIAL

 

Proibição na Austrália para menores de 16 anos deveria ser seguida pelo Brasil. Muitos pais não defendem o direito do filho à tela, mas sim a conveniência de não ter trabalho

A partir desta quarta (10), a Austrália se torna o primeiro país do mundo a proibir que menores de 16 anos tenham conta em redes sociais. TikTok, Instagram, YouTube, X, entre outras, tudo fora do alcance legal de crianças e adolescentes. As plataformas serão obrigadas, sob multa pesada, a tirar a chupeta digital da boca de quem ainda não tem maturidade para esse tipo de brinquedo.

O Brasil já deveria ter feito a mesma coisa. Está escancarado que crianças não têm preparo emocional, cognitivo nem mínimo senso crítico para habitar esse ambiente de pornografia, ódio, desinformação e dopamina infinita, mesmo quando o feed parece "controlado".

O mais constrangedor é precisar de lei para isso. Pais adultos, responsáveis e minimamente informados deveriam simplesmente limitar o acesso, tirar o celular da mão do filho, dizer "não". Em vez disso, muitos se acomodam, cedem ao "todo mundo tem", fingem que não veem o filho se transformar em zumbi de tela e abrir mão de sono, leitura, conversa, habilidade social básica. Sabem que o ambiente é podre, mas evitam o conflito. Não defendem o direito do filho à tela, mas sim a conveniência de não ter trabalho.

A experiência recente da proibição de celulares nas escolas brasileiras já mostra resultado: alunos mais presentes, mais concentrados, mais olho no professor e menos na tela. Quem viveu a grita contra a obrigatoriedade do cinto de segurança e a proibição de cigarro em lugares fechados lembra: toda medida de proteção coletiva começa impopular, cheia de esperneio adulto, e termina óbvia. Odeio dizer isso, mas o Maluf foi visionário!

Vai ter adolescente que burla? Claro. Vai ter pai que ajuda a trapacear? Também. Mas isso é só uma radiografia sinistra da nossa imaturidade. Quando um governo precisa decretar "offline obrigatório" para menores, não são as crianças que fracassaram. São os pais, os adultos, que preferem terceirizar a criação para o algoritmo e deixar os filhos à mercê de pressão estética, pedofilia, bullying, discurso de ódio. O nome disso deveria ser abandono de menor e criminalizado como tal.

Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista

Nenhum comentário:

Postar um comentário